quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Olha aí os nossos guris


O meu guri
Chico Buarque/1981

Quando, seu moço, nasceu meu rebento
Não era o momento dele rebentar
Já foi nascendo com cara de fome
E eu não tinha nem nome pra lhe dar
Como fui levando, não sei lhe explicar
Fui assim levando ele a me levar
E na sua meninice ele um dia me disse
Que chegava lá
Olha aí
Olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega

Chega suado e veloz do batente
E traz sempre um presente pra me encabular
Tanta corrente de ouro, seu moço
Que haja pescoço pra enfiar
Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro
Chave, caderneta, terço e patuá
Um lenço e uma penca de documentos
Pra finalmente eu me identificar, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega

Chega no morro com o carregamento

Pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar cá no alto
Essa onda de assaltos tá um horror
Eu consolo ele, ele me consola
Boto ele no colo pra ele me ninar
De repente acordo, olho pro lado
E o danado já foi trabalhar, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega

Chega estampado, manchete, retrato
Com venda nos olhos, legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente, seu moço
Fazendo alvoroço demais
O guri no mato, acho que tá rindo
Acho que tá lindo de papo pro ar
Desde o começo, eu não disse, seu moço
Ele disse que chegava lá
Olha aí, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri

Chico Buarque é hoje e sempre um dos maiores compositores da musica popular brasileira ,
mostrando toda sua verve em composições líricas ou de contestamento politico-social. Com num belo exemplo a letra reproduzida acima "Meu Guri " , Chico relata a confissão de um pai que se encanta com seu filho mas ,sendo morador de uma area periférica "o morro", encontra dificuldades de cria-lo, devido as desigualdades e desesperança que esse lugar apresenta.
Seu filho sem perspectiva para o futuro se envolve com a criminalidade, segundo dados do UNICEF, 40% dos jovens de 15 a 17 anos moradores da comunidades populares do Rio de Janeiro, não estão estudando , nem trabalhando formalmente nem procurando emprego. Ainda no mesmo estudo a taxa de homicídios entre jovens do sexo masculino foi de 228,5 para cada 100 mil habitantes. Esse numeros alarmantes crescem a cada dia por isso devemos eleger governantes que se preocupem em defender os direitos de crianças para que esses numeros diminuam.


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